Em julho de 2020, no primeiro inverno após o início da pandemia de coronavírus, havia um receio sobre como crianças e adolescentes com doenças respiratórias poderiam reagir se contaminados por covid-19. Isto porque os meses entre junho e setembro, que coincidem com os dias frios e secos de inverno, são os mais difíceis para quem tem asma, bronquite, hipertensão pulmonar – além de alergias em geral.
Porém, no ano passado, um estudo do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) revelou que as internações por infecções respiratórias comuns em UTIs pediátricas tiveram uma queda de 80% em 2020 em comparação com os três anos anteriores.
Dois fatores que contribuíram para esse resultado são o isolamento social e a suspensão das aulas, o que fez com que as crianças estudassem em casa por meio de aulas online durante quase todo o ano.
Mas, e como está a situação de crianças com doenças respiratórias pediátricas e a covid-19 neste inverno de 2021, após muitas escolas terem retornado presencialmente nos meses de maio e junho? Conversamos com duas médicas pediátricas do Ambulatório Multiassistencial (AMAS) mantido pela Umane na região centro-oeste de São Paulo, que atende gratuitamente crianças e adolescentes até 17 anos, moradores da região.
Segundo a médica pneumopediatra Paula Sellan, a procura pelos prontos-socorros pediátricos aumentou, mas muito pouco por conta das medidas de higiene e segurança que as escolas adotaram, seguindo os protocolos contra a covid-19.
Tudo foi importante: o uso de máscaras pelas crianças e pelas famílias, a higienização das mãos, dos materiais e dos espaços, o distanciamento entre as carteiras, bem como o número reduzido de crianças nas salas.
“Todos esses fatores ajudaram a combater tanto a contaminação por covid quanto outras doenças respiratórias, que continuam tendo uma diminuição importante este ano”, avalia a Dra. Paula.
Como saber se a criança está gripada ou com covid-19?
O que se sabe é que, na maioria das vezes, as crianças que tiveram covid-19 ficam assintomáticas ou apresentam sintomas mais leves, com um pouco de coriza, tosse e febre. Então, como identificar se uma criança está só gripada ou está com covid-19?
Segundo a médica, antes de tudo é importante já isolar a criança e não enviá-la mais para a escola, por segurança para ela e para os demais estudantes. Daí, o ideal é realizar o exame.
“Para a família distinguir se a criança está apresentando um quadro de covid ou de um outro vírus, de outros sintomas gripais, o ideal é realizar o exame. E coletar o exame no tempo certo. Por exemplo, o PCR, que é o exame do ‘cotonete’, o swab nasal, só deve ser coletado a partir do terceiro dia de sintomas”, explica Dra. Paula.
“Tem crianças que evoluem apenas com coriza e febre, tem crianças que tem sintomas gastrointestinais, como vômito e diarreia. Por isso é sempre muito importante avaliar”, pontua a Dra. Marcela Maciel Villela de Marco Sacho, também pneumologista pediátrica do AMAS.
Como tratar as doenças respiratórias no inverno?
Na opinião das médicas, o fundamental é fazer o acompanhamento e controle das doenças, bem como seguir os tratamentos de forma correta, como no caso de tratamentos de asma, por exemplo, além de manter a imunização em dia.
“Se a asma está controlada, se o paciente faz uso da medicação de forma correta e não teve mais crises, a asma não é mais fator de risco para covid”, sinaliza Marcela.
“É importante lembrar que, além do covid-19, todos os outros vírus estão circulando nesta época do ano, como o vírus da gripe”, reforça Paula.
Por último é bom ressaltar a importância de manter os tratamentos em dia, assim como da prevenção, respeitando as medidas de isolamento que seguem em vigor.
Sobretudo, é crucial cuidar da saúde das crianças como um todo, com um olhar atento para a qualidade da alimentação e das atividades. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a obesidade também está relacionada com a presença de asma, especialmente em crianças sem doenças ‘atópicas’ (dermatite, eczema, dentre outras).
A origem do problema parece ser o estado inflamatório causado pela obesidade em crianças. Estas crianças tendem a responder menos aos broncodilatadores e serem mais acometidas no exercício, fato que complica o manejo da obesidade. [fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento de Nutrologia. Obesidade na infância e adolescência – Manual de Orientação. 3ª Ed. – São Paulo: SBP. 2019]