Adolescentes negros no Brasil: desafios em saúde e educação

Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A saúde da população negra no Brasil é uma questão complexa e urgente que demanda um olhar intersetorial para fatores como o racismo estrutural, disparidades de acesso aos serviços de saúde e a discriminação em ambientes escolares e sociais. Para adolescentes negros, esses desafios são ainda mais pronunciados e multifacetados, impactando tanto a saúde física quanto a mental.

No âmbito da saúde mental, três estratos populacionais são mais afetados, segundo o  Diagnóstico n. 3 da coletânea “Mais SUS em Evidências”: pessoas negras, crianças e adolescentes, e mulheres. É conhecido que os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), que incluem fatores como raça, idade e gênero, influenciam a prestação dos serviços de saúde, portanto, a intersecção dessas dimensões indica os grupos de pessoas que deveriam receber maior cuidado e atenção.

Neste cenário, quais os desafios e caminhos para garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade à população negra adolescente? Continue lendo abaixo.


Como a desigualdade racial afeta a saúde e o bem-estar?

O acesso a serviços de saúde é significativamente limitado para a população negra, sobretudo adolescentes. A localização e a falta de infraestrutura das unidades de saúde em regiões periféricas são exemplos dessa disparidade. Além da distribuição desigual de recursos e oportunidades, outro fator de alerta relacionado ao racismo estrutural são as altas taxas de mortalidade.

De acordo com o relatório “Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil”, do Unicef, crianças e adolescentes negros representam 83% das vítimas de mortes violentas no país. Outra pesquisa, desta vez do Ministério da Saúde (2018), revelou que o risco de suicídio entre jovens negros do sexo masculino entre 10 e 29 anos é 45% maior do que entre jovens brancos do mesmo sexo e faixa etária. Evidências que ilustram as consequências de desigualdades sociais históricas e sistêmicas.

Em 2021, a pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” mostrou que, para 49% da população, a desigualdade social é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na população negra. 

Jovens negros enfrentam barreiras para receber cuidados preventivos e de tratamento, muitas vezes pela discriminação e negligência em ambientes médicos. Essa percepção é reforçada por outros dados da pesquisa “Viver em São Paulo”, que apontam que 57% dos entrevistados sentem diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas em hospitais e postos de saúde, assim como em outros espaços, como shoppings e comércios (78%) e escolas e faculdades (74%).


Obstáculos para adolescentes negros no Brasil em ambientes escolares

Como apresentamos, a saúde mental dos adolescentes negros é outra área que requer atenção urgente. Nesse contexto, as escolas desempenham um papel central. A Política Nacional de Saúde Mental nas Escolas, apoiada por organizações como o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e o Instituto Cactus, visa criar um ambiente educacional mais acolhedor e inclusivo para todos. A sanção da Lei, em 2024, representa um passo importante, mas ainda há muito a ser feito para oferecer suporte psicológico nas escolas e ajudar a fazer delas um espaço livre de discriminação e preconceitos.

A cartilha “10 Ações para políticas de Saúde Mental nas escolas”, divulgada pelo IEPS e Instituto Cactus, apresenta propostas inovadoras que visam fortalecer a integração da saúde mental à educação, incluindo a formação de profissionais e o desenvolvimento de ações que envolvem a comunidade escolar na totalidade.

Uma abordagem intersetorial aborda as raízes do problema, reconhecendo que o racismo e a marginalização impactam diretamente a saúde mental e a capacidade de aprendizado dos adolescentes. Uma escola que falha em reconhecer e combater essas desigualdades contribui para um ciclo contínuo de exclusão.

O enfrentamento das desigualdades na saúde da população negra, em especial dos adolescentes, requer uma compreensão da interconexão entre saúde, educação e justiça social. Investir em políticas públicas eficazes, sensibilização e ações educativas contra o racismo e que promovam o bem-estar é o caminho para a construção de um futuro onde a juventude negra possa prosperar plenamente.