
Em 2024 o Guia Alimentar para a População Brasileira completa dez anos de sua publicação. Produzido pelo Ministério da Saúde com o auxílio de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o documento é uma fonte de consulta para profissionais de saúde e outros interessados em uma cultura alimentar saudável. A publicação também é fundamental para formuladores de políticas públicas.
Inovador, o Guia propõe a classificação dos alimentos não pela ótica dos nutrientes de cada elemento, mas sim segundo o seu grau de processamento. Historicamente, a pirâmide alimentar dividia–se conforme o valor nutricional dos alimentos, enquanto o Guia Alimentar para a População Brasileira os dividiu em ultraprocessados, processados e alimentos in natura.
Essa nova classificação parte da percepção de que o grau de processamento dos alimentos não determina apenas o seu conteúdo nutricional, mas também pode influenciar o surgimento de diferentes problemas de saúde. A abordagem, baseada em evidências científicas, ficou ainda mais sólida com o passar dos anos e com as pesquisas que apontam que a ingestão de alimentos ultraprocessados está associada a um risco aumentado de mais de 30 agravos à saúde humana.
Processamento e industrialização de alimentos
Alimentos processados são aqueles que passaram por algum tipo de modificação durante seu processo de produção, como a adição de conservantes, saborizantes e corantes. O processamento também pode incluir a pasteurização, congelamento ou mesmo o pré-cozimento dos ingredientes. Entre os objetivos está o aumento do prazo de validade, bem como a conveniência para o consumo.
Os alimentos industrializados estão bastante presentes na alimentação moderna, em especial nos grandes centros urbanos, onde o ritmo agitado da vida muitas vezes impede a destinação de tempo adequado para as refeições. Nas capitais brasileiras, 18% dos adultos haviam consumido cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista, segundo dados de 2023 do Vigitel consultados no Observatório da APS. Na faixa etária mais jovem, entre 18 e 24 anos, o número cresce para 26,3%.
O excesso de alimentos processados e industrializados traz diversos riscos para a saúde, estando associado ao surgimento e complicação de várias doenças. Seu consumo deve ser feito com moderação, dando preferência a uma dieta com a ingestão de alimentos frescos e in natura. O sódio, por exemplo, amplamente usado como conservante, pode elevar a pressão arterial e potencializar doenças cardiovasculares. Já o alto teor de açúcares refinados pode contribuir para o aparecimento de diabetes.
Geralmente muito calóricos e ricos em gorduras, os alimentos processados ainda podem levar ao ganho de peso, propiciando a obesidade. As gorduras trans e saturadas presentes nesses alimentos podem desestabilizar os níveis de colesterol, aumentando o risco de aterosclerose e doenças cardíacas.
O processamento e industrialização dos alimentos também podem remover nutrientes essenciais para uma dieta equilibrada como fibras, vitaminas e sais minerais – substituindo-os por açúcares e gorduras no intuito de conferir aroma e sabor aos alimentos.
Fomentando hábitos alimentares saudáveis
A grande contribuição do Guia Alimentar para a População Brasileira é justamente a sua ajuda na formulação de estratégias para estabelecer uma cultura alimentar saudável. Escrito em linguagem acessível e didática, o Guia pode ser fonte de consulta tanto para a pessoa que quer melhorar sua alimentação, quanto para profissionais de saúde e gestores públicos em seu trabalho cotidiano.

Desde a sua publicação, ele tem sido reconhecido como um dos mais avançados e inovadores documentos no campo da saúde pública e nutrição, promovendo avanços significativos tanto no Brasil quanto internacionalmente – Uruguai, Equador, Peru, Chile e México lançaram guias inspirados na iniciativa brasileira.
De acordo com o Guia, uma dieta saudável deve ser baseada principalmente em alimentos frescos, in natura, minimamente processados e predominantemente de origem vegetal. Outro ponto importante é a valorização da diversidade alimentar brasileira, a atenção aos múltiplos aspectos culturais de um país continental e em consonância com a sazonalidade de produção dos alimentos.
A escolha dos alimentos vai além do valor nutricional. O Guia Alimentar para a População Brasileira enfatiza a importância cultural e social da alimentação, incentiva escolhas alimentares que respeitem o meio ambiente e promovam práticas sustentáveis, como o consumo de alimentos da estação e produzidos localmente.
Também traz uma série de dicas para estabelecer uma cultura alimentar saudável que pode ser implementada em âmbito pessoal e coletivo, e é uma robusta ferramenta para enfrentamento de problemas de saúde pública derivados da má alimentação, além de aliado no combate à fome e à desnutrição.
A Umane defende a importância de uma alimentação saudável e equilibrada para proporcionar saúde e bem-estar para a população, minimizando fatores de risco associados às DCNT, a sigla para Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Também acreditamos que um país que pensa no futuro alimenta com qualidade quem o construirá, por isso, apoiamos iniciativas como o estudo NutriNet Brasil, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas de São Paulo (NUPENS/USP). O projeto acompanhará até 200 mil brasileiros de todas as regiões durante dez anos para investigar a relação entre padrões alimentares e a morbimortalidade por DCNT. Você também pode fazer parte deste estudo: acesse o site e cadastre-se!