Pela primeira vez na história, todos os 365 dias do ano de 2023 foram pelo menos um grau Celsius mais quentes que a média registrada na era pré-industrial. O aumento recorde das temperaturas é alarmante, mas é apenas uma das faces das mudanças climáticas, o maior desafio que a humanidade enfrenta hoje.
Os impactos climáticos também prejudicam a saúde e são considerados a principal ameaça ao bem-estar físico e mental da população mundial. Principalmente dos mais vulneráveis, afinal, os problemas de saúde não afetam todos os grupos sociais igualmente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), fatores ambientais causam a mortalidade de aproximadamente 13 milhões de pessoas por ano – com maior impacto sobre crianças de até cinco anos e adultos de 50 a 75 anos.
Frente ao aumento da frequência e da intensidade das transformações climáticas e ambientais, a Umane apoia iniciativas que contemplam o tema para preencher lacunas de informações e compreender suas implicações. Para entender melhor o cenário, apresentamos 3 riscos para a saúde decorrentes das mudanças climáticas.
1- Doenças relacionadas a eventos climáticos extremos e à qualidade do ar
Calor, chuva, seca… Eventos potencializados pelas mudanças do clima podem expandir o número de doenças transmitidas por vetores, pela água ou pelos alimentos, ao mesmo tempo em que dificultam a prevenção e o controle, sobrecarregando o sistema de saúde.
Um exemplo atual é a escalada da dengue no Brasil em 2024. Entre as múltiplas causas, incluindo a baixa eficácia de ações dos governos e órgãos de saúde, o período chuvoso e o calor acima da média criaram condições ideais para a proliferação do mosquito transmissor da dengue.
A poluição do ar é outra ameaça ambiental que impacta diretamente nas doenças respiratórias, além de outras relações menos óbvias. É o caso de doenças cardiovasculares, prejuízos às funções reprodutivas, endócrinas e metabólicas e incidência de baixo peso ao nascer, malformação congênita ou morte intrauterina, segundo estudo do Ministério da Saúde sobre os impactos da poluição atmosférica na ótica do Sistema Único de Saúde (SUS).
A edição 2023 da pesquisa Covitel, inquérito apoiado pela Umane, realizou uma investigação inédita sobre os reflexos da poluição do ar na saúde da população, que apontou que quase um em cada cinco adultos brasileiros (18,4%) têm a autopercepção de morar em um local poluído.
2- Aumento da fome e desnutrição
Mais uma faceta das desigualdades na saúde é a segurança alimentar, um problema sério no Brasil. E as mudanças climáticas e a escassez de água têm o potencial de agravar o cenário, impactando na capacidade de cultivo agrícola e na criação de animais e, assim, o acesso a alimentos devido à escassez de recursos.
Um estudo do Instituto Fome Zero, com base em dados da Pnad Contínua, projetou em 20 milhões o número de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave em 2023 (recuo de 39% em relação ao ano anterior). Além da quantidade suficiente, é fundamental olhar para a qualidade da alimentação. Nas capitais brasileiras, apenas 21,3% da população adulta consome a quantidade recomendada de frutas e hortaliças diariamente – e, ainda de acordo com dados do Vigitel de 2023, o número cai para 17,2% entre as pessoas com menos anos de estudo (zero a oito anos). Ao mesmo tempo, alimentos ultraprocessados são consumidos em quantidades elevadas por 18% da população.
Para mais dados sobre as Características do Padrão Alimentar, acesse o Observatório da APS, uma plataforma Umane, que reúne análises, pesquisas e informações sobre saúde no Brasil.
3- Pressões sobre a saúde mental
Os efeitos da temperatura e outros eventos extremos sobre o corpo já são conhecidos. Mas e quanto à saúde mental? A OMS aponta que as mudanças climáticas representam sérios riscos para o bem-estar psicossocial. Entre os problemas que podem ser relacionados às ações climáticas:
- Insônia, fadiga e irritabilidade
- Sofrimento emocional
- Ansiedade e depressão
- Luto
- Estresse pós-traumático
Um estudo internacional publicado na revista Nature Climate em 2018 apontou que, para cada um grau de aumento na temperatura, houve elevação na mortalidade por saúde mental, um impacto semelhante ao de crises como as recessões econômicas. Trata-se de um ponto de atenção, e dados mais aprofundados e locais são fundamentais para apoiar a criação de novas políticas públicas de atenção à saúde mental.
A mudança dos padrões climáticos está expandindo doenças, limitando o acesso a recursos essenciais e prejudicando a saúde física e mental globalmente. Isso pressiona, encarece e dificulta a manutenção dos sistemas de saúde, por isso a saúde deve ser um tema central dos planos de ação para minimizar o impacto das mudanças climáticas hoje e no futuro.
Para saber mais sobre a atuação da Umane, acesse: umane.org.br